O chamado jeitinho brasileiro tornou-se sinônimo de
expertise do nosso povo ao longo do tempo. Já foi muito enaltecido, cantado em
verso e prosa. É universal entre as camadas sociais. Seu significado é ser
contrário à forma correta de praticar algum ato.
Têm algumas condutas tanto mais reiteradas quanto
negadas. Quem quer passar no primeiro exame para tirar uma habilitação para
dirigir sabe muito bem do que se está falando. Isso vem de muito longe. Em
agosto de 1995 a revista Veja São Paulo trouxe na capa a compra de uma
carta por 200 reais. A reportagem apontava que a repórter não sabia dirigir.
Ela cometera faltas propositais que seriam suficientes para reprovação de
quatro candidatos, mas foi aprovada, além de o instrutor ter feito praticamente
tudo por ela para evitar mais erros. Assim funciona o Brasil oficial. Quando se
paga por fora, vale tudo, mas acontece; quando não, busca-se pelo em ovo e a
coisa não anda.
“Limpar” pontos da carteira de habilitação era um negócio
tão explícito que faixas tomavam conta de toda a cidade de São Paulo. A lei
Cidade Limpa ajudou a diminuir, mas vez outra aparece alguns anúncios. Cada
lugar tem o modo próprio dos seus golpes oficializados.
No desfile das escolas de samba no Anhembi é de doer a
omissão dos órgãos oficiais. Primeiro, se proíbe entrar com comida e água. Lá
dentro, um cachorro quente, apenas com pão, salsicha e alguns grãos de milho
custa 7,00 reais. Quando permitem entrar com uma garrafa d’água, que custa 1,50
fora, os controladores da entrada retiram a tampinha “para evitar que atirem na
pista”. Lá dentro se consegue as garrafas lacradas com as mesmas tampinhas ao
custo de 5,00 reais.
Outro exemplo de golpe corriqueiro é a proibição de tirar
fotos com as máquinas próprias em festa de formatura. Nem mesmo contratar um
fotógrafo do seu gosto é permitido. É o verdadeiro golpe casado.
No caso dos desfiles, o espaço é público, jorra dinheiro
público para as escolas e o evento se torna uma mistura que ninguém sabe onde
termina o público nem onde começa o privado. Isso serve para não
identificar responsáveis com clareza quando precisar, como no caso da boate
Kiss, em Santa Maria/RS.
Fiscalizar talvez seja a função mais essencial da
administração pública. Nela, a omissão é a regra e a corrupção grassa país
afora. Os preços deveriam ser tabelados dentro dos sambódromos ou de quaisquer
eventos públicos para evitar os abusos, que começa com o preço dos ingressos.
Em São Paulo custou de 80 a 120 reais nas arquibancadas, mesmo com a derrama de
dinheiro público para as escolas.
Com relação às formaturas, cada pessoa poderia ser livre
para levar sua máquina ou seu fotógrafo. O argumento de que o espaço não
poderia comportar tanta gente não passa de desculpa, afinal, a maioria iria
apenas levar suas máquinas e “revelar” quando quisesse ou pudesse. De
novo, caberia uma fiscalização sobre o preço abusivo das fotos mais valiosas do
mundo.
Esse funcionamento “casado”, formando uma verdadeira teia
de aranha, com abuso nos preços, ocorre também nas casas de shows, buffet,
prestação de serviços de TV, internet e outros. Muitos são verdadeiras cadeias
particulares, mas todas deveriam ser fiscalizadas, além de muitos emaranhados
desses pertencerem ao próprio poder público. E o pior, nesses eventos um
questionamento é rechaçado com ameaças e não se tem a quem recorrer. Como
sempre, o cidadão fica apeado no meio deste misto de ganância particular e
negligência pública.
(Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP)
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