O Baixo Juruá, que vai desde sua foz no Solimões até a
boca do Rio Tarauacá, próximo a Eirunepé, apresenta características que em
muito diferem do Médio Juruá que vai do Tarauacá até a foz do Breu. O curso do
Juruá apresenta neste trecho curvas mais amplas com raios que por vezes
ultrapassam a um quilometro e alongados estirões. À medida que nos afastamos da
fronteira com o Peru os declives se tornaram cada vez mais insignificantes,
parece que se navega em um terreno plano embora vez por outra se possa sentir
algumas vezes a torrente fluir com mais impetuosidade. As margens no Baixo
Juruá são na sua maior parte planas e baixas ainda que às vezes avistemos
terras firmes com barrancos de 12 a 50 metros de altura.
- Comunidade Juanico – Forte das Graças
(11.02.2013)
Como de costume partimos ao alvorecer com destino à
Comunidade Forte das Graças. Despedimo-nos de nossos novos amigos e partimos
céleres para enfrentar os 105 km que nos separavam de nosso destino. Meu
parceiro Marçal recuperara sua energia graças a um chá preparado pela sogra do
Sr. Manoel em Juanico. Tínhamos a pretensão de alcançar nosso objetivo por
volta das três horas da tarde, mas a canícula, ventos de até 50 km/h, banzeiros
fortes e chuva torrencial retardaram nossa progressão e só conseguimos atingir
nosso destino por volta das dezesseis horas.
A bela Comunidade firmemente assentada em terra firme é
banhada por um Lago de águas negras chamado Andirá cujas águas penetram no
Juruá algumas centenas de metros sem se misturar. Ao desembarcar, no “Bocão”,
preparamo-nos para o ataque sem dó nem piedade dos piuns e nada aconteceu,
talvez graças às águas ácidas do Lago, o fato é que foi a Comunidade mais
salubre que tivemos a oportunidade de conhecer em toda a Bacia do Juruá. Os
líderes da Comunidade já tinham franqueado ao Mário, que nos precedera, a Casa
do Professor que além de vários quartos possuía um banheiro e cozinha, coisa
rara nestas paragens.
À noite, durante o jantar, recebemos a visita dos líderes
que relataram ser a primeira vez que canoístas visitavam aquelas paragens.
Depois da visita continuei lançando os dados colhidos e o Mário e o Marçal
foram fazer uma incursão pela Comunidade. Como não poderia deixar de ser
tiveram de enfrentar as costumeiras provocações a respeito dos paraenses. É
estranho que os amazonenses que se referem aos paraenses, em geral como
bandoleiros, piratas e outros qualificativos nada lisonjeiros tenham escolhido,
pelo sufrágio universal, um político nascido naquele Estado para governá-los.
Na oportunidade o Sr. João Batista Ramos de Carvalho, que estava com viagem
marcada para Juruá na manhã seguinte, se prontificou a nos acompanhar mostrando
os diversos furos que abreviariam em muito nossa jornada.
- Comunidade Forte das Graças – Juruá
(12.02.2013)
Acordamos mais tarde (06h30), os 65 km que nos separavam
de Juruá poderiam ser vencidos na parte da manhã sem maiores dificuldades, além
do que podíamos contar com a possibilidade de abreviar a distância ao penetrar
nos Furos do Antonio, Arati e Taboca. Pedi ao Mário para fazer uma filmagem da
Comunidade vista do Rio e parti com o Marçal para nossa derradeira jornada até
o Juruá. Identificamos o Furo do Antonio e penetramos nele enquanto o Mário
fazia a volta procurando marcar no GPS a localização de alguma Comunidade que
por ali existisse. Logo que saímos do Furo encontramos o João Batista, que se
desencontrara do Mário quando este concluiu a filmagem e aproou para a cidade
de Juruá. O João nos guiou, pacientemente, até a Cidade de Juruá e tivemos,
mais uma vez a oportunidade de admirar, de perto, a beleza dos Igapós e Lagos
ao navegar por estes belíssimos labirintos naturais.
Nas cercanias de Juruá despedimo-nos do João Batista e
voltamos nossas proas para o Porto de Juruá. Despachei o Mário à frente com o intuito
de que este fizesse contato imediato com a PM e qual não foi minha surpresa ao
verificar que uma viatura da PM já nos aguardava postada na parte mais alta do
formidável barranco que dá acesso ao Porto. Os informantes já tinham alertado
os Policiais Militares da nossa chegada julgando, mais uma vez, que se tratava
de traficantes ou fugitivos. Apesar do alerta vermelho dos ribeirinhos fomos
muito bem recebidos pelos PMs que nos encaminharam imediatamente ao
Vice-prefeito José Leland Herculano Saraiva que autorizou que ficássemos
alojados no Hotel Amazonas com as despesas pagas pela Prefeitura do Juruá.
- Juruá (13 a 15.02.2013)
No Hotel conhecemos dois personagens muito interessantes,
o engenheiro Roberto Carlos Coêlho Dibo e o senhor Reis, um típico nordestino.
No dia 14 assistimos, de manhã, a palestra “Profissional com Alto Desempenho”
promovida pelo Engenheiro Roberto na sede da Prefeitura de Juruá e, à tarde,
depois de conceder uma entrevista à Rádio Juruá FM 104,9 MHz, ao repórter e
Secretário Extraordinário da Prefeitura Sr. José de Arribamar Mendes de Souza,
realizamos uma entrevista com o Vice-prefeito José Leland que discorreu com
desenvoltura sobre assuntos atinentes ao seu Município, projetos em curso e
futuros. Depois da entrevista conseguimos, graças à Secretária Marly da S.
Mota, um computador para fazer o “upload” das fotos para o facebook do
trecho de Cararuari até Juruá.
(Hiram Reis e Silva, Juruá, Amazonas, 15 de fevereiro de 2013)
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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