Por haver participado da
política classista durante vários anos, apesar de uma única participação na
diretoria de um Sindicato propriamente dito na década de oitenta, sinto-me à
vontade para realizar algumas reflexões sobre o sistema sindical brasileiro.
Sem entender como os
Sindicatos e as Federações podem representar seus associados cuidando de
interesses distintos e muitas vezes opostos como fazem atualmente, depois dessa
experiência todas as minhas participações foram em entidades que não fazem
parte do sistema sindical, as chamadas organizações não governamentais.
Penso que essas entidades
possuem maior legitimidade exatamente porque tratam exclusivamente de um
interesse específico como as que buscam o respeito à propriedade privada, a
reforma agrária, o meio ambiente, os povos indígenas e não de interesses
diversos, muitas vezes confrontantes como alguns dos citados.
No sistema sindical vigente em
nosso país, os mesmos sindicatos, federações e confederações que cuidam dos
interesses dos produtores de milho cuidam também daqueles dos criadores de
porcos e frangos que o consomem, o que penso ser inviável, pois os interesses
certamente são opostos.
Por questões de insalubridade,
capacitação, exigência de nível de escolaridade e outras, os interesses dos trabalhadores
rurais na agricultura são totalmente diversos dos trabalhadores na pecuária e
os sindicatos que os representam são os mesmos. O sindicato que cuida dos
interesses de um grande produtor rural é o mesmo que cuida daquele ex sem terra
que hoje, após assentado, é um pequeno agricultor e isso ocorre em todas as
áreas.
Trabalhadores de empresas
estatais ou privadas, Universidades Federais, Polícia Federal, médicos,
professores, bancários e funcionários dos correios realizaram ou estão
realizando greves e sem me aprofundar no mérito, fica claro que a busca de
todos eles é prioritariamente por maiores salários, com os sindicatos sempre
muito intransigentes nessas negociações. Entretanto, não vejo nenhum sindicato
incentivar a realização de greves para que seus filiados recebam cursos para
maior capacitação profissional.
O indivíduo capacitado, com
mais cursos e especializações, sempre conseguirá maiores remunerações salariais
e não necessitará fazer greve para tal, ou nem mesmo ser filiado a nenhum
sindicato, só contribuindo a estes por obrigação legal.
Penso haver chegado o momento
de uma verdadeira mudança no foco central da questão. Em sua grande maioria as
lideranças sindicais que aí estão são verdadeiros profissionais da exploração
de seus filiados, não abandonando seus cargos e frequentemente alterando seus
estatutos para incontáveis reeleições, pensando exclusivamente nas benesses
salariais e mordomias obtidas com esses cargos, sem, em nenhum momento pensar
realmente nos interesses da classe que deveria defender.
A obrigatoriedade da filiação
sindical é o principal motivo desses acontecimentos. No sistema democrático
todos devem ser filiados a uma entidade que oficialmente os represente diante
do poder público, mas precisariam ser livres para se associar a quem entenderem
que realmente os represente, podendo inclusive mudar quando julgar que outra
entidade o representaria melhor.
Os sindicatos deveriam
pleitear sempre a maior capacitação, educação e cultura de seus filiados, que
assim serão mais bem remunerados sem a necessidade de greves, mas isso não
aumenta a arrecadação sindical.
Trabalhadores mais
capacitados não reelegerão os líderes sindicais que aí estão e por isso as
greves são por maiores salários e não por maior capacitação.
(João Bosco
Leal www.joaoboscoleal.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário