terça-feira, 30 de julho de 2013

Nilson: Crônica Policial 01 - Um cavalo no caminho

Um cavalo no caminho


Como diria o poeta: “havia um cavalo no caminho. No caminho, havia um cavalo”. Eu vi, estava lá, fui testemunha ocular do fato. Mês de janeiro, verão tropical em seu ápice, sob o sol escaldante do meio dia, lá estava o pobre eqüino estirado ao solo. Não era preciso ser possuidor de conhecimentos da medicina veterinária para se diagnosticar que o pobre bicho estava prestes a deixar esta vida terrena.

Os sinais de maus-tratos eram visíveis. Hematomas por várias partes do corpo, possivelmente causados por golpes desferidos com pedaços de madeira e uma magreza extrema, levando-me a concluir de forma lógica, que o animal era vítima de desnutrição.

Um grupo de curiosos assistia de forma passiva, os últimos momentos de vida do cavalo, que agonizava. A cena extremamente comovente foi fotografada e filmada por alguns incautos, que talvez fossem usar o material no facebook ou em outras redes sociais.

Boatos davam conta de que o animal pertenceria a um determinado cidadão, e este, após explorá-lo de forma indevida, o abandonou para morrer a míngua, pois ele (o cavalo), velho e doente, não “valeria o investimento” em tratamento veterinário, tais como consultas por profissional especializado e medicamento, já que era certo que morreria em breve.

O quadro grotesco comoveu um transeunte, que acionou a Polícia Militar, que de imediato enviou uma equipe até o local. Após averiguarem a veracidade do fato, os policiais identificaram o proprietário do bicho, que foi conduzido à delegacia de polícia, onde foi lavrado um Boletim de Ocorrência, em que ele foi citado como autor da prática de maus-tratos a animais.

O cidadão também teve que tomar providências para solucionar aquela lamentável situação, que não sei dizer quais foram, mas o bicho foi retirado do local, levando-me a acreditar que tenha tido uma morte digna, pois isto era o mínimo que ele merecia, tendo em vista que em um passado recente, ao ser flagrado utilizando luxuoso veículo oficial para levar uma cadela de sua propriedade até o veterinário, um ex-ministro afirmou categoricamente: “cachorro também é ser humano”. Pois bem, quem sabe, cavalo também o seja.

Nestas situações, fica impossível não traçar um paralelo entre o ocorrido com o bicho e o que se passa com alguns da espécie homo sapiens. Senão vejamos: o cavalo um dia foi filhote, e por ser pequeno foi paparicado, faziam gracejos com ele, admiravam sua beleza, seus primeiros passos, até o fato de mamar chamava a atenção.

No auge de seu vigor físico, era utilizado nas lides do campo, puxar carroça também era sua atribuição. Trabalhou muito e propiciou lucro aos seus exploradores. Participou de cavalgadas, onde alguns seres supostamente humanos usavam sua postura, sua elegância animal, para se exibir aos demais. Porém, o tempo passou e combalido pelos anos e pelo serviço em excesso, sem os devidos cuidados, foi abandonado por aqueles a quem tanto se dedicou. “Bananeira que já deu cacho”, diziam.

Guardadas as devidas proporções, sua situação é idêntica à de determinados idosos, abandonados por seus familiares e que só sobrevivem e terão morte digna, devido à dedicação de pessoas que imbuídas de um espírito de cristandade, acolhem esses irmãos que estão sem lar, em uma entidade filantrópica. Por favor, chamem a Polícia!

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