Como diria o poeta: “havia um cavalo no caminho. No caminho, havia um cavalo”. Eu vi, estava lá, fui testemunha ocular do fato. Mês de janeiro, verão tropical em seu ápice, sob o sol escaldante do meio dia, lá estava o pobre eqüino estirado ao solo. Não era preciso ser possuidor de conhecimentos da medicina veterinária para se diagnosticar que o pobre bicho estava prestes a deixar esta vida terrena.
Os sinais de
maus-tratos eram visíveis. Hematomas por várias partes do corpo, possivelmente
causados por golpes desferidos com pedaços de madeira e uma magreza extrema,
levando-me a concluir de forma lógica, que o animal era vítima de desnutrição.
Um grupo de
curiosos assistia de forma passiva, os últimos momentos de vida do cavalo, que
agonizava. A cena extremamente comovente foi fotografada e filmada por alguns
incautos, que talvez fossem usar o material no facebook ou em outras redes
sociais.
Boatos davam conta
de que o animal pertenceria a um determinado cidadão, e este, após explorá-lo
de forma indevida, o abandonou para morrer a míngua, pois ele (o cavalo), velho
e doente, não “valeria o investimento” em tratamento veterinário, tais como
consultas por profissional especializado e medicamento, já que era certo que
morreria em breve.
O quadro grotesco
comoveu um transeunte, que acionou a Polícia Militar, que de imediato enviou
uma equipe até o local. Após averiguarem a veracidade do fato, os policiais
identificaram o proprietário do bicho, que foi conduzido à delegacia de polícia,
onde foi lavrado um Boletim de Ocorrência, em que ele foi citado como autor da
prática de maus-tratos a animais.
O cidadão também
teve que tomar providências para solucionar aquela lamentável situação, que não
sei dizer quais foram, mas o bicho foi retirado do local, levando-me a
acreditar que tenha tido uma morte digna, pois isto era o mínimo que ele
merecia, tendo em vista que em um passado recente, ao ser flagrado utilizando
luxuoso veículo oficial para levar uma cadela de sua propriedade até o veterinário,
um ex-ministro afirmou categoricamente: “cachorro também é ser humano”. Pois
bem, quem sabe, cavalo também o seja.
Nestas situações, fica impossível não traçar um paralelo entre o ocorrido com o bicho e o que se passa com alguns da espécie homo sapiens. Senão vejamos: o cavalo um dia foi filhote, e por ser pequeno foi paparicado, faziam gracejos com ele, admiravam sua beleza, seus primeiros passos, até o fato de mamar chamava a atenção.
No auge de seu
vigor físico, era utilizado nas lides do campo, puxar carroça também era sua
atribuição. Trabalhou muito e propiciou lucro aos seus exploradores. Participou
de cavalgadas, onde alguns seres supostamente humanos usavam sua postura, sua
elegância animal, para se exibir aos demais. Porém, o tempo passou e combalido
pelos anos e pelo
serviço em excesso, sem os devidos cuidados, foi abandonado por aqueles a quem
tanto se dedicou. “Bananeira que já deu cacho”, diziam.
Guardadas as
devidas proporções, sua situação é idêntica à de determinados idosos, abandonados
por seus familiares e que só sobrevivem e terão morte digna, devido à dedicação
de pessoas que imbuídas de um espírito de cristandade, acolhem esses irmãos que
estão sem lar, em uma entidade filantrópica. Por favor, chamem a Polícia!
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