Há o politicamente correcto – que tem a ver com a prática pública da hipocrisia – e há o estupidamente incorrecto, que além de ter a ver com a referida hipocrisia, tem sobretudo a ver com a ignorância militante e o sentido de andar na onda. Provavelmente, isto aplica-se à generalidade dos povos e culturas, mas como com o mal dos outros podemos nós bem, bom seria preocuparmo-nos com o que a nós, portugueses, diz respeito.
Ora, não precisaríamos de realçar – no entanto faz sempre jeito lembrar – o quanto os palradores televisivos odeiam a língua portuguesa e o quanto, simetricamente, amam o americanês. É por isto que, quando se trata de pronunciar palavras de outras línguas, é vê-los a espremerem-se para americanamente lhes darem uma certa tonalidade de grupo de rock.
Falaremos disto noutra altura. Por agora, como a «presidenta lá dos brasis», quer boas quer por más razões, anda muito destacada nos MEDIA (como se diz em português) – e também nos mídia (como se diz em americanês) – queremos pôr em evidência a descabida controvérsia do presidenta vs. presidente.
As feministas e os feministas pós-modernos adoram dar nas vistas, de modo a que ninguém lhes aponte máculas que ponham em dúvida serem o que dizem ser. É como aqueles que, para não parecerem racistas, ao referirem-se a uma pessoa de raça preta dizem que é africano (ou africana) mesmo que tenha nascido em Coimbra, negando a africanidade aos brancos nascidos no continente que chamam negro, vá lá saber-se porquê.
Sobre a tal coisa da «presidenta», o que me faz dar voltas ao miolo é ter-se posto de moda falar de o poeta e da poeta e a palavra poetisa ter sido arquivada nos esconsos do esquecimento. Coisas. Feitios.
Bom, mas entremos no que importa. Faz tempos, o meu querido amigo e confrade das lides literárias Lauro Portugal remeteu-me um belíssimo texto demonstrativo da incorrecção de «presidenta» e do inverso quanto a presidente. Esse texto perdeu-se por aqui num emaranhado de ficheiros, mas por importante que seria transcrevê-lo aqui, trago uma compensação, um outro texto, todavia menos elaborado, cujo autor desconheço, mas que tem a mesma pertinência.
«A jornalista Pilar del Rio costuma explicar … … que dantes não havia mulheres presidentes e por isso é que não existia a palavra presidenta... Daí que … diga insistentemente que é Presidenta da Fundação José Saramago e se refira a Assunção Esteves como Presidenta da Assembleia da República.
»… Escutei Helena Roseta dizer, retorquindo a comentário de um jornalista da SICNotícias, muito segura da sua afirmação: “Presidenta!”.
Colaboração: Abdul Cadre, de Portugal.
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