'Planeta Sagrado
Houve um tempo em que falar de meio ambiente era coisa de gente maluca, uns ripongas que não tomavam banho e fumavam maconha em suas comunidades alternativas. O tempo passou e o planeta começou a responder da sua forma costumeira - forte, intensa e além de conceitos maniqueístas - a todos os tropeços da Humanidade, dos baseados na ignorância até aqueles regidos pela ganância e o desrespeito assumido.O final do século XX ficou marcado tanto pelos crimes ambientais e suas conseqüências naturais, quanto por movimentos dos chamados ambientalistas, agora nem tão malucos, nem tão ripongas, mas cidadãos respeitáveis, com curso universitário e discurso articulado. Ainda assim, um pouco exóticos pelo simples fato de pensarem primeiro na preservação do planeta e depois nas questões econômicas.Um passo a mais e surge o termo “desenvolvimento sustentável”, referindo-se à exploração das riquezas naturais, dentro de um contexto equilibrado, que suprisse as necessidades do homem, sem exaurir a Natureza. Com isto, alguns empresários mais conscientes se permitiram dialogar com os ambientalistas, com objetivo de encontrar um ponto de equilíbrio.Fizemos a transição de um tempo de lutas isoladas e reivindicações inviáveis economicamente, para um processo de educação ambiental e tomada de consciência de que a manutenção dos recursos naturais é fator primordial para a sobrevivência do ser humano na Terra. O próprio homem passou a ser inserido como um dos “itens” a serem preservados, saindo da sua habitual posição arrogante de dono do mundo para um lugar mais integrado aos demais seres vivos.No entanto, quando tudo parecia bem encaminhado, os radicais que carregam bandeiras anti-capitalismo e anti-consumismo voltam a ter ingredientes substanciosos para seus discursos. Começam a surgir denúncias de que os grandes movimentos, que tornaram-se ONGs e cresceram em termos de estrutura e divulgação, como grandes instituições, estavam sendo custeados por multinacionais e com isto começavam a trilhar uma rota menos ideológica e mais contaminada por interesses não estritamente ambientalistas.A compra de ações de grandes empresas começam a levantar suspeitas nos mais desconfiados, que se questionam até que ponto pode-se caminhar nesta corda bamba, esta linha tênue que hoje separa os ambientalistas e dos grandes capitais.Estranhamente, alguns crimes ambientais são mais combatidos do que outros. Estranhamente, empresas que fabricam alimentos possivelmente prejudiciais à saúde e até transgênicos patrocinam “ONGs verdes”. Estranhamente, a luta pela preservação do meio ambiente ganha espaço em salas com decoração sofisticada em reuniões de engravatados e vira tema da moda entre socialites que nunca colocaram os pés em um riacho e as mãos em uma terra preta e fértil.Pode parecer perseguição, pode mesmo parecer que depois que os ambientalistas conseguiram abrir espaço para debater o futuro do planeta e seu equilíbrio ecológico, querem agora pegar de volta o monopólio do amor à Natureza, não permitindo que o assunto seja profanado em ambientes capitalistas. No entanto, para aqueles que souberam evoluir do radicalismo xiita do ecologicamente correto e chegaram às alternativas de um convívio harmônio entre a vida confortável do homem moderno e a preservação ambiental não deixa de ser estranho observar certas associações praticamente inviáveis.Depois da luta para que a Humanidade despertasse para a importância dos demais seres vivos e recursos naturais, depois da conscientização e da divulgação da importância de preservar e não permitir a extinção de espécies e de ar puro e água limpa, depois de tudo isto, a nova batalha do século XXI parece ser pela ética dentro dos movimentos ambientalistas. Uma luta mais difícil, que envolve tanto o caráter e a pureza de objetivos do homem, quanto a possível quebra de um sonho que começou com alguns ripongas, em comunidades alternativas, que tinham certeza de que o ar que eles respiravam valia mais do que as bugigangas que o dinheiro pode comprar.
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