Este remédio extraído da rã
de nome Kambô é bom porque traz felicidade e também para se caçar. Quando toma
o Kambô a caça se aproxima curiosa, pois quem o toma passa a emitir uma luz
verde e é esta luz que faz a caça e as coisas boas se aproximarem de nós. Serve
para tirar a panema (preguiça, perda de ânimo) e também desentope as veias do
coração e faz circular o sangue do ser humano como um todo. O uso do Kambô é
milenar em nossa tradição: vem da sabedoria dos nossos ancestrais. (Pajé Assis
André Katukina)
Phyllomedusa bicolor
A Phyllomedusa bicolor ou rã
Kampũ, Kambo, Kambô, Cambo ou Sapo Verde, é uma rã arborícola encontrada na
Bolívia, Peru, Venezuela e Guianas, na Amazônia e em algumas vegetações
ribeirinhas do Cerrado brasileiro. É um anfíbio da Família Hylidae da família
das pererecas (Hylidae), apresenta placas aderentes na ponta dos dedos, que
facilitam a escalada dos troncos. É a maior espécie do gênero, podendo chegar a
quase 12 cm de comprimento. A Phyllomedusa possui hábitos noturnos e os machos
nos meses de reprodução cantam empoleirados na vegetação em alturas de até 10
metros. Os ovos são colocados sobre folhas nas margens de igapós e lagos
permitindo que os girinos ao eclodir caiam diretamente no ambiente aquático.
O Kambô e os Katukina
e Kaxinawá
Os animais são capturados,
pelos pajés, durante a madrugada para extrair deles sua secreção cutânea
considerada como um antibiótico natural poderoso capaz de combater e eliminar
diversas moléstias. Embora não existam pesquisas científicas que comprovem sua
eficiência, alguns pesquisadores acreditam que ela possa ser utilizada nos
tratamentos do câncer e da AIDS, pois consideram que ela reforça o sistema
imunológico destruindo as membranas celulares das bactérias.
Os pajés consideram as
doenças como um espírito negativo que ataca o indivíduo. Os nativos fazem uso
do Kambô para afastar o inimigo, acabar com o desânimo e falta de vontade para
caçar, para estimular a libido, afugentar a má sorte, a tristeza, combater a
baixa estima, fortalecer o corpo, a mente e o espírito, e fundamentalmente,
para buscar a harmonia com a natureza, melhora o fluxo sanguíneo permitindo
mais ativamente circular a emoção, o sentimento e o amor. Os líderes
espirituais afirmam que o remédio traz a sorte para quem caça, fazendo com que
o animal se aproxime curiosamente do caçador já que ao ser tratado com o Kambô
ele passa a emitir uma luz verde que faz a caça se aproximar.
Os Katukinas, nunca matam os
Kambô, pois acham que se o fizerem, poderão ser picados por cobras. Os
Ashaninkas, afirmam que se o sapo cantar próximo de uma cabana, ele precisa ser
imediatamente capturado e, a seguir, o nativo precisa queimar os pulsos e, no
alvorecer do dia seguinte, bater nas costas do sapo, para ele soltar o veneno
que será passado sobre o local.
Pesquisa
Internacional
Fonte -
Amazonlink
Pesquisas científicas vem
sendo realizadas sobre as propriedades da secreção da Phyllomedusa bicolor
desde a década de 80. O primeiro a “descobrir”
as propriedades da secreção para a ciência moderna foi um grupo de
pesquisadores italianos. Amostras das rãs foram levadas do Peru por um
pesquisador para os EUA (o mesmo pesquisador que já tinha pesquisado e
patenteado anteriormente substâncias da rã Epipedobates tricolor, utilizada
tradicionalmente pelos povos indígenas do Equador). Também foram publicadas
pesquisas sobre as propriedades da secreção por pesquisadores franceses e
israelitas. Mais recente, a Universidade de Kentucky (EUA) está pesquisando (e
patenteando) uma das substâncias encontradas na secreção do sapo em colaboração
com a empresa farmacêutica Zymogenetics. Diversos laboratórios internacionais
já estão interessados no veneno do kambô para desenvolver um medicamento que
pode levar à cura do câncer.
Resultados
surpreendentes
Fonte -
Amazonlink
As pesquisas revelaram que a
secreção do Phyllomedusa bicolor contém uma série de substâncias altamente
eficazes, sendo as principais a dermorfina e a deltorfina, pertencentes ao
grupo dos peptídeos. Estes dois peptídeos eram desconhecidos antes das pesquisas
com o Phyllomedusa bicolor. Dermorfina é um potente analgésico e deltorfina
pode ser aplicada no tratamento da Ischemia (um tipo de falta de circulação
sanguínea e falta de oxigênio, que pode causar derrames). As substâncias da
secreção do sapo também possuem propriedades antibióticas e de fortalecimento
do sistema imunológico e ainda revelaram grande poder no tratamento do mal de
Parkinson, AIDS, câncer, depressão e outras doenças. Deltorfina e Dermorfina
hoje estão sendo produzidos de forma sintética.
Doenças combatidas
pelo kambô
O medicamento vem sendo
desenvolvido e mostrado bons resultados nas pessoas que se encontram com dores
e inflamação em geral: musculares, coluna, ciática, artrite, reumáticas,
tendinite, enxaqueca e outros. Cansaço nas pernas, dor de cabeça crônica, asma,
bronquite, rinite, sinusite, acne, alergias, gastrite, úlcera, diabetes,
pressão arterial, obesidade, problemas circulatórios, formigamento, retenção de
líquido, colesterol, cateterismo, doenças do coração em geral, hepatite,
cirrose, malária (aguda) e pós malária, labirintite, epilepsia, TPM,
irregularidades menstruais, infertilidade, impotência, redução da libido,
depressão e suas consequências, ansiedade, insônia, irritação, insegurança,
nervosismo, medo, stress, fadiga, sistema nervoso abalado, esgotamento físico,
mental, emocional, desintoxicação, dependência química e tabagismo são algumas
das possíveis doenças tratadas pela Vacina do Sapo. Trata distúrbios nos órgãos
genitais, pulmão, rim, vesícula, baço-pâncreas, bexiga, coração, estômago,
intestino, tiróide, fígado, garganta.
Reação
A reação da vacina dura
cinco minutos. Nesse tempo ocorre a limpeza no campo físico, energético,
emocional e espiritual. Após cinco minutos a sensação é de limpeza, leveza,
tranquilidade, bem estar, paz interior e conscientização do desequilíbrio ou
distúrbio a ser tratado. Depois de 30 minutos da aplicação, a pessoa já está
apta para suas atividades normais. (...)
Aplicação é Indolor e
os Efeitos Imediatos
A coleta da substância da rã
é feita sem machucá-la, no tempo certo e na lua certa. Conhece-se o animal pelo
canto. Logo que a secreção é retirada, ele é devolvido à mata. Após seis meses
a rã pode ser reutilizada. Na aplicação não utilizam-se agulhas. São feitos os
pontos para introduzir a vacina no organismo com um cipó em brasa (lembra um
incenso), fazendo uma leve escamação na pele, em contato com a pele, retira um
pedaço pequeno, deixando a circulação exposta, onde é aplicada a substância. O
cipó usado é anti-inflamatório e após a aplicação não é necessários cuidados
especiais, pois a cicatrização dos pontos é rápida. O tratamento é composto de
três aplicações com intervalo de 30 dias para cada aplicação.
Pesquisa “in loco”
Vídeo: http://youtu.be/iZ4q3hEVhW0
O Soldado Delcio Ubim
Tesquim, do 61º BIS e membro da Terra Indígena Poyanawas (Dukuda Kayapaika),
município de Mâncio Lima, AC, apresentou-nos ao Pajé José Luiz (Puwẽ).
Infelizmente, não conseguimos realizar a aplicação da Vacina do sapo na
quarta-feira, 02.12.2013, como era nossa intenção, o Pajé afirmou que tinha
usado seu último estoque da secreção e agendamos, então, para o dia seguinte
(03.12.2013).
Chegando cedo à aldeia, o
Pajé José Luiz, devidamente paramentado, levou-nos até a Arena, conhecida por
eles como “Casa, Floresta de
Todos Nós” (Dimanã Ẽwê Yubabu) onde realizam diversos eventos
culturais, entre eles os “Jogos
da Celebração”. Eu e o Marçal fomos orientados a beber goles
generosos de Caiçuma. Sou abstêmio convicto, mas o pajé garantiu que a bebida
tinha um teor alcoólico bastante baixo e fazia parte do ritual, por isso, bebi.
Caiçuma:
não perguntei como eles preparavam a bebida, mas, normalmente, as mulheres da
comunidade depois de cozinharem a macaxeira reúnem-se para a mastigarem, colocando
a mistura em um recipiente feito de argila. A massa sofre fermenta e apresenta
no final do processo um sabor levemente adocicado e azedo de textura e cor
semelhante ao leite. Quanto maior o tempo de maturação do produto maior seu
teor alcoólico. (Nota do Autor)
Após a ingestão da bebida
fomos levados por uma trilha para o interior da mata onde ingerimos mais
caiçuma. O Soldado Tesquim foi encarregado de fazer as tomadas das cenas. O
Pajé preparou um cipó-titica e com ele em brasa somente aproximou-o de meu
braço fazendo cinco aplicações com o intuito de remover parte da pele. O
processo foi totalmente indolor.
Cipó-titica: é
da espécie botânica Heteropsis flexuosa, encontrada na Amazônia, nas áreas de
terra firme. Quando adulto, o caule grosso, lenhoso, resistente e durável, é
utilizado na indústria moveleira e no artesanato. (Nota do Autor)
Após isso adicionou um pouco
de água a uma pequena espátula de madeira onde se encontrava a secreção do
Kampũ. Passou então uma pequena porção da mistura em cada um dos cinco pontos
preparados do braço esquerdo. O Soldado Tesquim, neste momento, aproximou-se
disse que a máquina estava sem memória para continuar as gravações. Eu tinha
esquecido de deletar as fotografias anteriores, tentei removê-las, mas o efeito
da vacina já começara a agir, passei a máquina para o Marçal que limpou a
memória toda, por isso perdemos a gravação da primeira parte do ritual.
Fui orientado pelo Pajé a me
deitar nas palhas que haviam sido colocadas para isso e literalmente apaguei, não
sei como cheguei até lá. Comecei a vomitar e o Pajé e seus assistentes, Isa e
Xĩdu procurara me deixar sentado. Só fiquei sabendo disso, depois, pelas
gravações. Durante todo o tempo tivemos acompanhamento constante do Pajé e de
seus assistentes. Volta e meia ele vinha até nós e usava sobre nossos corpos a
fumaça do cachimbo. Os mesmos procedimentos foram aplicados ao Marçal que teve
uma reação muito melhor que a minha. Levei mais de vinte minutos para ter
condições de me levantar, depois de ter vomitado diversas vezes.
Fomos levados então para
tomar um banho nas águas geladas do Igarapé Traíra. Foi um banho revigorante
após o qual nos sentimos em condições de voltar a Aldeia. Na casa do Pajé
experimentei o rapé já que, desde o ritual, saia de minhas narinas uma
abundante secreção. Ficamos conversando sobre a cultura dos nativos e de como
as novas religiões trazida para as Aldeias pelos Padres e Pastores vem
determinando a perda de identidade dos povos. A esposa do Pajé, a Sra. Awĩ Vari
(Mulher Sol) se prontificou a fazer uma pintura de jenipapo no meu braço
direito e no do Marçal.
Foi uma experiência bastante
interessante que guardaremos com carinho por toda vida, mas, muito além disso
foi importante reconhecer no jovem casal dois guerreiros que trabalham e lutam
para manter viva sua cultura e a identidade de seu povo.
Conclusão
Hoje, por volta do
meio-dia, estaremos na TV Juruá (SBT) concedendo nossa última entrevista ao
repórter Leandro Altheman Lopes e amanhã, voltaremos a enfrentar as águas
tumultuárias do Juruá. Estamos programando nossa chegada a Ipixuna, AM, na
terça-feira. Queremos deixar patente nosso agradecimento especial ao 61º
Batalhão de Infantaria de Selva, na pessoa de seu Comandante Tenente-coronel
Alexandre Guerra e ao Capitão Gustavo Mayrink Pedro da Silva, que não mediram
esforços para tornar nossa estada em Cruzeiro do Sul a mais agradável possível
além de apoiar-nos irrestritamente no tocante a Expedição General Belarmino
Mendonça.
Fontes:
SOUZA, Moisés B. Diversidade
de Anfíbios nas Unidades de Conservação Ambiental: Reserva Extrativista do Alto
Juruá (REAJ) e Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD), Acre – Brasil –
UNESP- Rio Claro, SP. 2003, p.56-57. (Tese de doutorado).
SOUZA, Moisés B. et
al. Anfíbios. In: CUNHA, M. C. da; ALMEIDA, M. B. (Orgs.). Enciclopédia da
Floresta: O Alto Juruá: Práticas e Conhecimentos das Populações, São Paulo -
SP., Companhia das Letras, 2002, p.608-610.
(Hiram Reis e Silva,
Cruzeiro do Sul, Acre, 04 de janeiro de 2013)
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