Toda uma vida no Brasil
Na sala onde eu trabalhava havia uma estante cheia de livros sobre a imigração japonesa para o Brasil. Um dia, em busca de algo para ler, peguei aleatoriamente o livro Toda uma vida no Brasil*, que reunia crônicas publicadas por Katsuzo Yamamoto. Abri o livro numa página qualquer e comecei a ler sobre a viagem que ele havia feito pelo litoral norte do Estado de São Paulo.
Visitando as praias de Ubatuba, encontrou um velho conhecido que trabalhava num barco com algumas pessoas. Sabendo que o tal imigrante era um lavrador, só não ficou surpreso por encontrá-lo ali, pois sabia que ele tinha o sonho de construir um barco de pesca. Conversando com ele, o imigrante lhe contou que havia construído o barco dentro do depósito de batata no interior de São Paulo, na região de Presidente Prudente, de onde o trouxe de caminhão, percorrendo uma distância de cerca de 700 km.
Katsuzo Yamamoto disse que não conhecia ninguém tão teimoso quanto ele, afinal, somente a perseverança e a vontade de realizar um sonho fariam com que alguém em sã consciência fizesse algo assim. Essa história lhe rendeu a crônica, em que ele demonstra a admiração pela persistência com que os imigrantes japoneses perseguem um ideal, um sonho, um objetivo.
Sem ter terminado a leitura e com a intuição de que aquela história era conhecida, telefonei para minha mãe para perguntar onde é que tinha sido construído o primeiro barco do meu avô e qual não foi minha surpresa ao descobrir que a crônica que estava lendo contava uma parte da história da minha família.
Mal conseguíamos falar ao telefone, tamanha a emoção de saber que alguém tinha registrado algumas das peripécias do meu avô, a quem chamávamos de “Oji”, abreviação de “ojiichan”.
Depois disso, várias histórias vieram à tona, contadas por minha mãe e alguns de meus tios, sobre as histórias que eles também ouviram, outras que eles viveram, da vida na fazenda, da educação que receberam, de como meus avós eram, da mudança do interior de São Paulo para o litoral... Lembro terem me dito que realmente não havia ninguém tão teimoso quanto meu avô, que sempre dizia que jamais podíamos dar o braço a torcer!!
*YAMAMOTO, Katsuzo. Toda uma vida no Brasil. Tradução de José Yamashiro, prefácio de Shigeaki Ueki). São Paulo: Editora Mania de Livro, 2ª. ed., 1994, p. 24-26.
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