O Neoplatonismo das Igrejas
Uma filosofia que impressiona vivamente os pensadores cristãos dos primeiros séculos e vem reforçar a política anti-sexual da igreja cristã é o neoplatonismo. O termo abrange uma multiplicidade heterogênea de filosofias e religiões, todas inspiradas nas idéias do filósofo grego Platão. A cidade onde se faz o caldeamento dessas idéias é Alexandria, no Egito, a segunda cidade do Império Romano.Na definição do Dicionário Aurélio, o neoplatonismo significa: “Corrente doutrinária fundada por Amônio Sacas (séc. II), em Alexandria, e cujos representantes principais são Plotino, filósofo romano (204-270), em Roma; Jâmblico, filósofo grego (c. 250-330), na Síria; e Proclo, filósofo grego (410-485), em Atenas. Caracterizava-se pelas teses da absoluta transcendência do ser divino, da emanação (q. v.) e do retorno do mundo a Deus pela interiorização progressiva do homem.”No ano 244 dC aparece em Roma o filósofo alexandrino Plotino (203-269), forma sua escola e aí alcança em poucos anos um renome extraordinário. Plotino sabe captar admiravelmente a solidão dos indivíduos nas grandes cidades do Império Romano. Ao sentimento de vazio, a filosofia de Plotino corresponde com uma arte de vida que ensina o amor pelas realidades espirituais, a purificação do amor, partindo do que é material para o que é espiritual. O sucesso dessa filosofia, na realidade uma arte de viver, é tão intenso que ela passa para o cristianismo.O neoplatonismo cristão é caracterizado por uma oposição categórica entre o espiritual e o carnal, e pela aversão frente ao mundo dos sentidos, os cinco sentidos que nos colocam em relação com o mundo. Só através de uma rigorosa ascese a pessoa consegue libertar-se da matéria. Essa doutrina tem um impacto forte sobre os primeiros grandes intelectuais cristãos. Santo Agostinho abre, por muitos séculos, as portas das igrejas para a doutrina neoplatônica que se infiltra nos sermões, na catequese, na doutrinação do povo.No neoplatonismo, tempo e história perdem seu sentido. O cristão neoplatônico não pensa em política nem em economia, nem nas questões sociais. Para ele, o drama real se processa entre a alma e Deus. Os impulsos do corpo devem ser controlados e possivelmente eliminados. A finalidade consiste em se conseguir a êxtase, através da contemplação e da meditação, que são exercícios espirituais. O neoplatonismo, em que pese seu caráter de especulação racional, está impregnado de um senso religioso agudo e tem a vantagem de partir de uma concepção muito afim ao monoteísmo cristão. Mas do outro lado, nele não há espaço para a poesia, se por poesia entendemos um fazer do corpo. Tudo emana da razão e da vontade, não dos impulsos "poéticos" do corpo. O corpo deve ser mortificado.Embora sejam estas as origens cristãs, o império neoplatônico sobre o cristianismo está ruindo aos poucos. Aqui no Brasil, com a virada da questão social desde os anos 1950, quando os leigos começam a preocupar-se com as situações de abandono completo em que vive a maioria da população. Então, diante desse quadro, surgem contrastes, e assim, as bases teóricas do neoplatonismo passam a ser contestadas.
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