As preocupações com os filhos mudam, mas não acabam. No
início, enquanto crianças, ela gira em torno de sua saúde, educação, cultura e
futuro, mas passada essa fase, quando já nos orgulhamos dos resultados obtidos
nesses setores, começam outras.
Na juventude passamos a nos preocupar com os riscos no
trânsito, com sua segurança física, seus negócios, viagens e, posteriormente,
com seu casamento. Observamos se seguem ou não nossos exemplos e muitas vezes
notamos que estão fazendo o que atualmente já não faríamos, por termos mudado
de opinião ou por termos reconhecido que erramos naquele ponto.
Nessa etapa normalmente temos a intenção de, de alguma
maneira, aconselhar, orientar, na tentativa de ajudar para que não errem onde
já descobrimos que erramos, ou onde poderíamos ter sido melhores e quando eles
também passam a ser pais, a preocupação passa a ser com o relacionamento que
terão com seus próprios filhos.
Além do natural instinto de preservação da espécie e da
continuidade da família, os netos são o maior presente que poderíamos receber
na vida, e através deles é que nos enxergamos recomeçando, permanecendo na
vida. Os que passaram a serem avós iniciam um novo aprendizado, o de como se
relacionar com seus netos. É comum se lembrarem dos próprios avós, e de como se
relacionavam com eles.
Passam a entender as diferenças comportamentais e as
maiores ou menores afinidades que tínhamos com cada um dos avós, entre os
paternos e maternos, quais tinham mais ou menos paciência, o que faziam ou
permitiam que fizessem com eles.
Descobrem que um comportamento menos comunicativo ou
brincalhão de um dos avós não está relacionado com um maior ou menor amor pelos
netos, mas com a própria personalidade de cada um deles e também dos netos.
Problemas físicos causados por algum acidente ou pela própria idade também
podem limitar esses avós em relação a muitos tipos de brincadeiras com seus
netos, o que não significa menos amor.
Diversos ditados populares ensinam que "em briga de
marido e mulher não se mete a colher", ou "os avós são os pais com
açúcar", mas é a própria natureza que constantemente nos mostra que quem é
avô já não pode se comportar como pai e que deveria observar isso em todos os
sentidos, pois muitas são as demonstrações que ela dá, de que as fases são
muito distintas.
A idade cronológica dos avós, que naturalmente já não
possuem a mesma destreza, força e fôlego de quando mais jovens, é certamente a
maior diferença entre eles e seus filhos. O período durante o qual podiam
permanecer com uma criança no colo já não é o mesmo e o simples fato do avô
dobrar sua coluna para beijar uma criança de estatura bem mais baixa poderá
causar dores em sua coluna vertebral.
A audição e a paciência certamente também já não são as
mesmas e, nesse caso, se as pessoas falam baixo e ele não ouve, fica irritado,
o que também ocorre com os gritos e manhas das crianças, sejam netos ou
desconhecidos.
Por outro lado, muitas são as alegrias dos avós, como a
que senti quando há poucos dias ouvi de um neto: "Vovô, eu gostei muito de
suas brincadeiras", uma declaração simples, inesperada e ao mesmo tempo
tão profunda, que não soube sequer o que responder. Não pensei que aquela
simples brincadeira estivesse provocando sentimentos que certamente
permanecerão em por décadas em sua mente.
Todos esses detalhes são demonstrações de como as etapas
são diferentes e cada uma só será bem cumprida por quem estiver com sua idade
apropriada para tal. Os jovens não possuem experiência ou estrutura psicológica
para serem avós e estes já não possuem a física para voltarem a ser pais.
Educar e cuidar do futuro dos filhos é função
e responsabilidade dos pais, enquanto a dos avós é de simplesmente brincar,
passear e se relacionar com os netos da maneira que não puderam fazer com seus
filhos.
(João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br)
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