“Nada de câncer ou HIV: as doenças mentais
serão o grande mal do Século XXI”. Estas palavras foram proferidas por um
querido professor na Escola de Medicina, nos idos do Século XX, quando eu ainda
tinha cabelos e a maioria dos trabalhos científicos envolvia pesquisas
direcionadas para a AIDS. Hoje percebo que ele não poderia estar mais certo – e
eu, mais careca.
No dia a dia do consultório, mais da metade
dos atendimentos são para tratar conseqüências de estados emocionais alterados.
Por exemplo: a paciente que se queixa de dores crônicas no pescoço, mas não por
artrite ou contusões, e sim por todos aqueles problemas que vencem no dia
seguinte e a deixam em um estado de tensão constante. E aí tome hipertensão
arterial, obesidade, angina, etc.
Recentemente, vem aumentando o número de
pacientes que apresentam um distúrbio emocional em particular, a Síndrome do
Pânico, caracterizada por várias manifestações inespecíficas que ocorrem em
ataques. Durante a crise, podem ser observados palpitações, suores profusos, tremores, falta de ar,
náuseas, cólicas abdominais, vertigens, desmaios, medo de perder o controle ou
enlouquecer, dormências, calafrios e fogachos.
Tudo bem, sou obrigado a concordar que
qualquer pessoa levemente
conectada à nossa realidade corre o risco de desenvolver muitos desses
sintomas:
A cada dia,
no Brasil, ocorrem cerca de 200 assassinatos, 1.000 roubos de carros e mais de
7.500 pessoas são assaltadas - e menos de 5% destes crimes são esclarecidos.
Coloque em uma panela estes números da Insegurança Pública e adicione todos os
impostos que vencem no começo do ano, o material escolar das crianças e a
prefeitura cavando túneis que desabam sob prédios e residências. Tempere com o
risco da sua filha adolescente contrair alguma doença sexualmente transmissível
que vá lhe chamar de vovó ou vovô, e pronto: temos mais um paciente com
Síndrome do Pânico aguardando na recepção.
Calcula-se
que cerca de 2-5% da população mundial sofra com a doença. As mulheres são 2-3
vezes mais afetadas que os homens, principalmente no final da adolescência e
por volta dos 30 anos de idade.
Como os
primeiros casos foram descritos há pouco mais de 20 anos, os cientistas ainda
não conseguiram descobrir exatamente os mecanismos que causam a Síndrome. O que
se sabe é que os ataques duram cerca de 20-30 minutos (raramente mais de 1 h),
podendo ocorrer várias vezes ao dia. O uso de cafeína, álcool, nicotina e
outras substâncias com atividade sobre o sistema nervoso central ajudam a
desencadear ou potencializar as crises.
A avaliação
especializada é essencial. A Síndrome do Pânico deve ser diferenciada de outros
problemas potencialmente mais graves, como infarto agudo do miocárdio, doenças
pulmonares, epilepsia e alterações na glândula tireóide, entre outros.
Selado o
diagnóstico, o tratamento segue o mesmo roteiro de tantos outros distúrbios da
ansiedade. Podem ser empregados medicamentos para controlar o estado de nervos
(p.ex.: fluoxetina, paroxetina, diazepam, etc), mas é na psicoterapia que reside
a cura para o problema.
Sentir medo é
uma reação normal. O medo, assim como a dor, cuida da vigilância da sua saúde e
bem-estar, mas em hipótese alguma ele deve lhe impedir de curtir plenamente a
vida. Se isto estiver ocorrendo, procure auxílio de um profissional capacitado
para dominar o estado de pânico - como aquele sujeito no interior que tinha
horror a dentistas, mas foi obrigado a fazer uma consulta.
- Não tem
jeito, vamos ter que retirar este dente – sentenciou o dentista.
- Mas eu
estou com um medo danado, doutor!
- Você está
com medo? Então tome um pouco disto aqui, pra ganhar coragem – disse o
dentista, entregando ao paciente uma garrafa de cachaça -, e volte dentro de
meia hora.
Passados os
30 minutos e meia garrafa depois, o paciente volta.
- E então,
ganhou coragem?
- Ô, doutor,
e como, *Hic*! Quero ver qual o filho da mãe que vai encostar o dedo neste
dente aqui agora!!
(© Dr. Alessandro Loiola
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