sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Artigo: Todo mundo em pânico - A/01271

TODO MUNDO EM PÂNICO


“Nada de câncer ou HIV: as doenças mentais serão o grande mal do Século XXI”. Estas palavras foram proferidas por um querido professor na Escola de Medicina, nos idos do Século XX, quando eu ainda tinha cabelos e a maioria dos trabalhos científicos envolvia pesquisas direcionadas para a AIDS. Hoje percebo que ele não poderia estar mais certo – e eu, mais careca.

No dia a dia do consultório, mais da metade dos atendimentos são para tratar conseqüências de estados emocionais alterados. Por exemplo: a paciente que se queixa de dores crônicas no pescoço, mas não por artrite ou contusões, e sim por todos aqueles problemas que vencem no dia seguinte e a deixam em um estado de tensão constante. E aí tome hipertensão arterial, obesidade, angina, etc.

Recentemente, vem aumentando o número de pacientes que apresentam um distúrbio emocional em particular, a Síndrome do Pânico, caracterizada por várias manifestações inespecíficas que ocorrem em ataques. Durante a crise, podem ser observados palpitações, suores profusos, tremores, falta de ar, náuseas, cólicas abdominais, vertigens, desmaios, medo de perder o controle ou enlouquecer, dormências, calafrios e fogachos.

Tudo bem, sou obrigado a concordar que qualquer pessoa levemente conectada à nossa realidade corre o risco de desenvolver muitos desses sintomas:

A cada dia, no Brasil, ocorrem cerca de 200 assassinatos, 1.000 roubos de carros e mais de 7.500 pessoas são assaltadas - e menos de 5% destes crimes são esclarecidos. Coloque em uma panela estes números da Insegurança Pública e adicione todos os impostos que vencem no começo do ano, o material escolar das crianças e a prefeitura cavando túneis que desabam sob prédios e residências. Tempere com o risco da sua filha adolescente contrair alguma doença sexualmente transmissível que vá lhe chamar de vovó ou vovô, e pronto: temos mais um paciente com Síndrome do Pânico aguardando na recepção.

Calcula-se que cerca de 2-5% da população mundial sofra com a doença. As mulheres são 2-3 vezes mais afetadas que os homens, principalmente no final da adolescência e por volta dos 30 anos de idade.

Como os primeiros casos foram descritos há pouco mais de 20 anos, os cientistas ainda não conseguiram descobrir exatamente os mecanismos que causam a Síndrome. O que se sabe é que os ataques duram cerca de 20-30 minutos (raramente mais de 1 h), podendo ocorrer várias vezes ao dia. O uso de cafeína, álcool, nicotina e outras substâncias com atividade sobre o sistema nervoso central ajudam a desencadear ou potencializar as crises.

A avaliação especializada é essencial. A Síndrome do Pânico deve ser diferenciada de outros problemas potencialmente mais graves, como infarto agudo do miocárdio, doenças pulmonares, epilepsia e alterações na glândula tireóide, entre outros.

Selado o diagnóstico, o tratamento segue o mesmo roteiro de tantos outros distúrbios da ansiedade. Podem ser empregados medicamentos para controlar o estado de nervos (p.ex.: fluoxetina, paroxetina, diazepam, etc), mas é na psicoterapia que reside a cura para o problema.

Sentir medo é uma reação normal. O medo, assim como a dor, cuida da vigilância da sua saúde e bem-estar, mas em hipótese alguma ele deve lhe impedir de curtir plenamente a vida. Se isto estiver ocorrendo, procure auxílio de um profissional capacitado para dominar o estado de pânico - como aquele sujeito no interior que tinha horror a dentistas, mas foi obrigado a fazer uma consulta.

- Não tem jeito, vamos ter que retirar este dente – sentenciou o dentista.

- Mas eu estou com um medo danado, doutor!

- Você está com medo? Então tome um pouco disto aqui, pra ganhar coragem – disse o dentista, entregando ao paciente uma garrafa de cachaça -, e volte dentro de meia hora.

Passados os 30 minutos e meia garrafa depois, o paciente volta.

- E então, ganhou coragem?

- Ô, doutor, e como, *Hic*! Quero ver qual o filho da mãe que vai encostar o dedo neste dente aqui agora!!

(© Dr. Alessandro Loiola


 

 

 

 

 

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