Jesus Cristo foi casado ou solteiro?
Vez por outra surgem, nos
jornais, revistas, filmes, livros que viram Best-sellers da noite para o dia,
que até se cansam em ficar entre “os mais vendidos” o assunto absurdo de que
Jesus Cristo teve esposa, outros arriscam que foi amante de Maria Madalena, e
assim vai aumentando a fila dos ingênuos em discussões bizantinas.
Graças ao espírito democrático
de nossa era, aqui também me totalmente à vontade para juntar o meu arrazoado
com referência a esse assunto que, de vez em quando, se faz momentoso, para
logo depois sumir como as ondas de praia,
enchendo múltiplos cofres nas mais diversas regiões do globo.
Esclareço que não me baseio no
aspecto religioso da questão, pois qualquer que seja a minha crença ela reside
na minha esfera pessoal, e seria deselegante querer tomar a mão de qualquer
leitor para levá-lo ao meu templo ou ao meu modo de pensar, fosse numa igreja
ou num boteco.
Reservo-me tão somente ao
aspecto da figura histórica de Jesus a partir do que se pode confiar como
registrado na Bíblia judaico-cristã. Independente de qualquer juízo de valor
sobre o Velho e o Novo Testamento, uma coisa salta aos olhos de qualquer
historiador ou leitor que se preze, se der à leitura dos registros neles
contidos.
Em resumo, pode-se dizer que a
Bíblia, que na verdade é um conjunto de livros pela própria etimologia, dela
podemos dizer com justiça que a mesma não faz média com nenhum de seus
personagens. O limite de espaço me obriga
a citar apenas algumas passagens, onde mesmo aqueles que são considerados
patriarcas, profetas e homens santificados ali são espelhados em todas as suas
arestas.
Oras, se esse documento não
deixou de mencionar que o rei judeu Davi mandou colocar na linha de combate, em
situação de risco máximo, ao general Urias, para que este, uma vez morto, lhe
deixasse a esposa a quem cobiçava. E que tal injustiça foi perpetrada com
menção em seus mínimos detalhes, mostrando o pecado de um dos líderes mais
consagrados de Israel, certamente, só isso seria suficiente para mostrar que
não se faltou com a verdade.
Mas, em passant, temos o
próprio Abraão, o patriarca maior, coabitando com a escrava, de quem nasceu seu
filho Ismael e, por conta dos ciúmes de Sara, acabou por lançar Agar ao
deserto, sem eira e nem beira.
Na passagem de Ló, em que pelo
fato de as noras não terem quem as fecundasse, embebedaram o sogro de quem
vieram a ficar prenhes do próprio sogro, por um motivo compreensível até, de
que era a perpetuidade da raça e, particularmente da espécie.
Em Ezequiel, onde se conta que
ele por 3 anos se alimentou de estrume de animais como penitência por sua
condição de homem de Deus...
Oras, seria fastidioso
enumerar passagens infelizes da Bíblia, histórias dolorosas de uma mulher que
cortou a cabeça de um comandante militar a pretexto de salvação do povo em
luta.
Bom. Um livro que narra
alturas espirituais das maiores e da mais ampla admiração e êxtase para quanto
se derem à sua leitura, que interesse teria em não mencionar sobre a esposa ou
mulher de Jesus Cristo? Até porque o povo judeu é um dos que sempre levaram
muito em conta o fator familiar. Mais ainda naquele tempo, em que o mundo
precisava de aumentar o número de habitantes.
Seria até, por sinal, uma
história – sob o ponto de vista literário, mais rica e com um tom mais natural
e atraente à leitura sabermos nós, leitores desse livro, como era Jesus como
esposo, como era sua esposa, se chegou ou não a ter filhos.
Tudo isso a Bíblia mostraria, até porque não
seria até mais normal do que ele não ter contraído núpcias. Como seria
interessante para quem quer que haja escrito a história da bíblia contar como
teria sido o enlace do divino mestre com
uma mulher, por certo de muitas qualidades, como bem o sabemos o quanto sua mãe
Maria é enaltecida, a ponto de ali se constar que ela será relembrada por todas
as gerações até o fim do mundo.
Esta objeção ao fato de Jesus
ter sido casado daria um livro de muitas páginas, e colocaria na berlinda todas
essas ficções que aparecem com relação
ao estado civil de Jesus. A mim não enganam esses ficcionistas que posam de
pesquisadores: são exploradores da ingenuidade pública ou da curiosidade
frívola de leitores que vivem à procura de pelo em ovo.
(Geraldo Generoso – Ipaussu, SP)
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