PROSELITISMO
E CONFLITO ESPIRITUAL
A
Espiritualidade, em seus diversos matizes, está isenta de afrontas por quem
quer que seja, pois cada organização possui a sua própria egrégora. Ninguém
pode vilipendiar o bom nome de quem atravessou séculos primando por um
princípio, que está acima da vontade do homem
profano.
A
pluralização de denominações religiosas nos últimos tempos é assustadora.
Particularmente, no Brasil, o campo religioso encontra-se em transformação.
Alguns dados estatísticos lançam luz sobre a questão. O censo demográfico do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vem publicando números
que evidenciam a flagrante queda e perda da secular hegemonia católica – de
91,8% trinta anos antes para 73,8% em 2000; baixou consideravelmente em 2010 e
com estimativas de menos de 60% para 2020. A emergência de inúmeras
instituições religiosas e um panteão de miríades celestiais configura um
fenômeno criativo,
difuso e contraditório de individualizações religiosas no País.
O pluralismo institucional católico, mais que as crenças e
espiritualidades múltiplas praticadas no interior da própria religião, torna-se
evidente não com os protestantes históricos do século XIX numericamente
insignificante e nem com os grupos afro-brasileiros absorvidos pelo sincretismo
católico, mas sobretudo, pela avalanche do movimento neopentecostal dos anos 80
e 90, representados por religiões como a Igreja Universal do Reino de Deus, a
Igreja Internacional da Graça de Deus, a Renascer em Cristo, a Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra, dentre outras.
É
possível afirmar que o crescimento quantitativo e a grande fatia de fiéis
arregimentados sobremaneira das religiões tradicionais, chamaram a atenção dos pesquisadores
da religião para as igrejas evangélicas, sobretudo as pentecostais.
A
demografia religiosa oferece alguns dados acerca da composição do campo
religioso evidenciando grandes transformações que outrora eram apenas
especulações. Além do mais, as pesquisas
demonstram que esse movimento está ainda em curso e o cenário religioso
apresentará novas configurações. Contudo, é fundamental apontar para outro viés
das mudanças que são as significações doutrinárias que compõem o corpo de
cada religião. Aqui emerge as relações, por vezes amistosas e por vezes
agressivas, entre as agências do sagrado.
Nesse
contexto, nós corremos o risco da prática do proselitismo religioso, que é o
intento, zelo, diligência ou empenho de alguns grupos em converter uma ou
várias pessoas
a uma determinada causa, ideia ou religião. Nesse aspecto, muitas discussões
têm sido travadas, gerando, quase sempre, um verdadeiro conflito espiritual.
Preocupam-se alguns pseudolíderes em fomentar em suas denominações o sentimento de sectarismo exacerbado, impondo aos seus ouvintes as suas crenças e criticando outros segmentos da Espiritualidade, sejam eles esotéricos ou exotéricos. Alguns desses preletores despreparados teologicamente chegam a fazer afirmações levianas, atacando grupos da Tradição Primordial, de maneira irresponsável, como se fossem eles os “donos da verdade”.
É lamentável, quando isso ocorre, sem que a parte ofendida não tenha a
chance de oferecer qualquer subsídio, visto que os ataques são feitos de forma
monóloga. O agressor, desprovido de conhecimento da matéria abordada e de posse
de um microfone, emite pareceres precipitados e promove o terror perante uma
massa que não tem preparo algum para ouvir argumentos enfadonhos e outras
“asneiras”, que deixam muito a desejar.
Na verdade, o orador que procede dessa maneira, comete um abuso sem
medida, pois o ouvinte, em condição de desigualdade, tem que ouvir calado e
assim, participar de um Festival de Besteiras. De quando em vez, isso ocorre,
sem que possamos nos manifestar. Simplesmente, o nosso ponto de vista é
ignorado e o “sujeito” com base nas informações distorcidas da Internet e de
outros meios espúrios, fala pelos cotovelos, desrespeitando outros dogmas e
formas de adoração que porventura possam marcar presença na reunião.
No mundo da proliferação religiosa, essa prática é normal em nossos
dias. Sem dúvida, isso é proselitismo religioso. Relato aqui, com tristeza, fatos
que presenciei há pouco tempo numa denominação conceituada, quando um jovem
pretendia demonstrar a um pequeno grupo, alto grau de sapiência, atacando de
forma veemente segmentos do hermetismo. No meu entender, errou o alvo, pois o
público presente naquela noite não tinha o discernimento para entender os
termos que ele copiou de livros e da Internet, sem conhecer a essência das
doutrinas nominadas. Abaixo da crítica, o orador parece ter incorporado em sua
fala conceitos de eras medievais. As pessoas apenas entendiam quando ele
repetia palavras aterrorizadoras como “Satanismo”, “Lúcifer”, “Inferno” e
outras de domínio público, num estilo muito antigo e sem qualquer cuidado em
ferir sentimentos alheios, evitando constrangimentos. Foi infeliz em sua
prédica, quando poderia ter adotado temas bíblicos de relevância. É lamentável,
como em dias modernos, alguém ainda possa cometer tamanho deslize, em
detrimento de um proselitismo ou quase fanatismo religioso, uma prática
condenável pela sociedade moderna e evoluída.
A priori, ninguém é dono da razão final. A razão não se impõe pela
propaganda, pelo monólogo do proselitismo.
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