segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Livro 14: Capítulo VII - Espiritualidade e Qualidade de Vida

CAPÍTULO VII

ESPIRITUALIDADE E QUALIDADE DE VIDA

O gênio Albert Einstein disse: “Todas as religiões, todas as artes e todas as ciências são o ramo de uma mesma árvore. Todas essas aspirações visam ao enobrecimento da vida humana, elevando-a acima da esfera da existência puramente material e conduzindo o indivíduo para a liberdade.”

A dimensão espiritual na vida humana vem encontrando espaços crescentes nas melhores comunidades acadêmicas. Um grupo interdisciplinar e interinstitucional teve a louvável iniciativa de organizar um Encontro de Espiritualidade e Qualidade de Vida.

Teólogos, médicos, psicólogos, educadores, filósofos e outros cientistas, independentemente de vinculações eclesiais ou grupos espiritualistas, reuniram-se e dialogaram com muita liberdade acadêmica e espírito fraterno sobre o tema. Rorberto Francisco Rauch deu ênfase ao assunto, com a expressão: “fazendo votos de que futuros Encontros dessa natureza se repitam tornando cada vez mais real o sentido da vida, demonstrando que a próxima idade do Homem será mística ou não será nada.”

Como se pode definir espiritualidade? Espiritualidade é viver com espírito e, portanto, é uma dimensão constitutiva do ser humano. Espiritualidade é uma expressão para designar a totalidade do ser humano enquanto sentido e vitalidade, por isso espiritualidade significa viver segundo a dinâmica profunda da vida. Isso significa que tudo na existência é visto a partir de um novo olhar onde o ser humano vai construindo a sua integralidade e a sua integração com tudo que o cerca.

A ideia de que ciência e espiritualidade são áreas antagônicas já faz parte do passado. Pesquisas feitas em países como Brasil, Canadá e Estados Unidos buscam provar como experiências de caráter espiritual ajudam a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Essa tendência vem se firmando há alguns anos e ganha maior destaque com o aumento dos estudos sobre o assunto. Inúmeras pesquisas hoje indicam que pessoas que professam uma fé apresentam alguns resultados benéficos distintos na psicoterapia. Existe uma associação entre a dimensão de fé e o trabalho psicoterápico. Um potencializa o outro, gerando uma melhor qualidade de vida, bem-estar e alívio dos sintomas. Em termos emocionais, a espiritualidade propicia uma maneira diferenciada de tratar as dificuldades, que podem ser vistas como experiências de vida.

Em meados do século XX, muitos temiam que o processo de secularização não só minaria as bases da fé, mas também eliminaria o espaço da religião. Apostava-se na ciência e na técnica como caminho para a solução de todos os problemas humanos. E tudo indica que o subconsciente espiritual se vingou. Nunca houve tamanha proliferação religiosa como na segunda metade do século XX. Tomou-se consciência não só dos limites da ciência e da técnica, mas que a religião brota de fontes profundas do Homem.

Nos últimos anos, em alguns ambientes acadêmicos, percebe-se não só certa valorização positiva da religião, mas surge uma revitalização da vida religiosa, uma recuperação do sentido de Deus. Entre os cristãos podemos exemplificar com o movimento de oração carismática. Ensaiam-se muitas formas, estilos e métodos para avançar na experiência de Deus. Há, sem dúvida, uma forte busca do espiritual.

Todas as religiões têm sua espiritualidade e mística. O pensador francês H. Bergson dizia que uma religião sem mística não passa de ideologia. Se o Espírito de Deus é um, num primeiro momento, podemos dizer que só há uma espiritualidade. Todos na Igreja são chamados à santidade, embora esta se exprima de vários modos. Mas, sendo uma, a espiritualidade também é múltipla, segundo a condição do sujeito, segundo seu carisma, os dons da natureza e da graça, a vocação de cada um. O certo é que a espiritualidade, reduzida a uma sedimentação em conceitos e em doutrina, pode permanecer alheia à verdadeira vida. A verdadeira vida não se descreve, experimenta-se, vive-se.

O vocábulo místico aparece no século V a.C. (Ésquilo, Sófocles, Heródoto) significando algo concernente aos mistérios. No platonismo e no gnosticismo deixou de se referir à relação cultual com a Divindade para significar o fundamento divino do ser do mundo, escondido e velado nos ritos, nos mitos e nos símbolos, acessível somente a quem é capaz de um tal tipo de conhecimento. Há diferença entre espiritualidade e mística, mas muitas vezes os dois termos são usados como sinônimos. Usa-se o termo mística para designar a experiência íntima de uma realidade transcendente, a vivência de ideologias fortemente arraigadas e absorventes ou, no que nos interessa, a comunhão com Deus.

Segundo os próprios místicos, a experiência mística tem caráter repentino e breve do instante necessário para esta experiência. Tal pode ser um êxtase, uma saída ou perda de si mesmo, uma irrupção repentina do Absoluto. Não se trata de um privilégio de poucos eleitos, mas de um aspecto e de um fruto da fé e do amor-divino, dado por Deus. O místico parece ver e perceber o que os demais não vêem nem percebem.

Se durante séculos religião e ciência estiveram ocupando domínios completamente separados, para não dizer em conflito e até irreconciliáveis, esta virada de milênio reservou-nos viver uma reviravolta no assunto. Einstein referiu que um cientista podia, efetivamente, ser um homem religioso. Ele, por exemplo, acreditava em uma perspectiva “cósmica”.

Com isto em mente, é possível a inferência de que a Espiritualidade poderá, de forma análoga, incidir sobre os processos de bem-estar, assim como os relativos à aquisição de conhecimentos, no sentido de facilitá-los ou dificultá-los, segundo o modo como o indivíduo pratica, percebe, compreende o fato Espiritual ou a Divindade.

 

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