sexta-feira, 29 de julho de 2011

Artigo: Dia dos Pais - A/0980

O calendário traz em seu bojo, entre os dias de merecida comemoração e reverência, o DIA DOS PAIS. Pais que trazem ao mundo, pais que criam, pais que fazem os filhos responsáveis e lhes quer o melhor que a vida pode oferecer. Tenho cogitado, não raras vezes, da enorme responsabilidade que pesa sobre os ombros de alguém que se candidata à paternidade.

Sei hoje que a mídia – impressa, falada e televisada- está toda voltada em suas matérias e seus anúncios sobre esta data tão auspiciosa. Mas há o reverso da medalha a ser considerado e reconsiderado, no caso de pais ausentes, irresponsáveis, que no mais das vezes só assumem a paternidade mediante esse momentoso recurso do DNA.

Oras, as pessoas, senão por religião e espiritualidade, ao menos por bom senso, deveriam ter presentes que transferir a vida carnal a um outro ser se reveste de uma responsabilidade que vai além desta vida. Não viemos a este mundo para simplesmente vicejar e transferir nossa carne, músculos, cartilagens e nervos, animando um ser que vem do nada. Há a obrigação de conscientemente criar, em matéria e espírito, os filhos que a Natureza confia e pela qual a realidade vem cobrando um alto preço da paternidade irresponsável, que dura minutos ou segundos de efêmero prazer e resulta em filhos que, em hipótese alguma, podem alegrar esses pais e a sociedade.

Sim, esses tais pais ausentes e levianos nada podem esperar de seus filhos e devem até se sentir constrangidos com esta data que os chama à responsabilidade e à vergonha. Sabemos da dor que vai neste mundo, por outro lado, em relação aos pais esquecidos. Lembro-me que até compus um poema – que qualquer dia publicarei aqui neste jornal – sobre a figura do pai solteiro. Há sim, anciãos abandonados porque o tempo lhes transfigurou as faces e a linguagem, já não podem ser interpretados pela lógica deste tempo de velocidade, tecnologia e código de barras.

Há, sim, pais em asilos, que por melhores que sejam – e há bons estabelecimentos para idosos– ainda assim lembram degredo e exílio. A ingratidão humana não tem nem limites nem explicações em certos casos. Ouçamos a canção do couro de boi, em que o filho toca o pai de casa, solta-o pelo mundo, por implicância da nora.

Eis que, raspando os últimos sentimentos de solidariedade de seu coração empedernido, o filho toma de um couro e oferece ao pai “para lhe servir de coberta, aonde o senhor dormir”. Eis que o velho, desolado, mas com a força que só os antigos possuíam, toma o rumo da estrada e se vai embora. O neto, de 11 anos, acompanha-o e suplica ao avô para que lhe dê um pedaço daquele couro acabado de curtir. Ao regressar, o pai lhe pergunta “por que você quer esse couro que seu avô ia levando? “ e ele replica: “ um dia vou me casar e pode ser que a gente não se combine quando o senhor comigo vir morar,” e Tonico e Tinoco – a maior dupla sertaneja do mundo, arremata assim a frase do garoto : ‘ESTA METADE DO COURO, VOU DAR PRO SENHOR LEVAR”.

Neste dia dos pais poderia eu, como poucos, pelo pai que tive, falar de belezas, do amor ao trabalho que meu velho sempre manteve e foi um símbolo. Mas não tenho o direito de ser pessoal e subjetivo, quando a indignação me assoma de forma clara quanto a um assunto tão sério – ser pai – quando há tantos pais desnaturados por estes brasis.

De qualquer modo, há, felizmente, grande número de pais presentes e atuantes, cheios de amor como aquele pai de que Jesus Cristo nos conta em sua imortal parábola do Filho Pródigo. Coração de pai é sempre grande, quando realmente sente a responsabilidade e sabe da grandeza de sua condição, pois o nome de PAI, em última análise, segundo a Bíblia Cristã só é reservado a Deus – o Criador, e realmente, pai de todos os pais do Universo. Que ELE, o PAIZÃO MAIOR, derrame suas profusas bênçãos sobre todos os pais nesta data!

                                    (Geraldo Generoso – Ipaussu, SP)

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