domingo, 16 de março de 2008

A Gameleira - P/025

I

Bem distante, entre serras, eu nasci;
Têm pedreiras, gameleiras e lagoas.
Era pequenino, nem sei como vivi.
Mugia o gado, no prado c´as patroas.

No verão, pastagens secas, só lamento.
Secavam rios, os assobios, bem longe se ouvia:
Os tristes ais, faltando água e alimento.
No sertão, só a solidão por companhia.

Lá eu nasci: me acalentaram numa rede.
Nuvens vagas, noutras plagas, a esperança;
Sol, causticante, ninguém suportava a sede,
Hoje mo lar, a embalar um sonho de criança.

II

iRecordar é viver; me lembro da gameleira,
Do pau de copa plantado por quem se foi...
Me disseram que ali havia carro de boi,
E romarias pros lados da cachoeira.

Tudo era alegre, uma estrada ali passava;
Os antepassados colhiam da terra o fruto.
A vida era mais bela, apesar do ermo bruto,
Mais esperança e fé no povo que ali morava.

Lá passando, com saudade me lembrei...
Do meu sertão que deixei quando eu nasci.
A gameleira na fazenda, então senti,
Dentro do peito, a dor cruel, e chorei.

(Jairo de Lima Alves)

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